O preço dos carros no Brasil é frequentemente alvo de críticas, sendo apontado como um dos mais caros do mundo. Isso é resultado, em grande parte, da elevada carga tributária que incide sobre o setor automotivo. A Ford, por exemplo, decidiu encerrar suas operações no Brasil, e uma das razões apontadas foi a dificuldade de manter a lucratividade diante desses altos custos. Se uma montadora não consegue ganhar dinheiro no país, ela tende a encerrar suas atividades, sendo essa uma decisão racional do ponto de vista empresarial.

O Brasil se destaca pela altíssima carga tributária sobre o consumo, sendo um dos países que mais tributa bens de consumo, incluindo veículos. Quando você compra um carro no Brasil, uma parte significativa do preço é composta por impostos, como o ICMS, IPI, PIS/Cofins, entre outros. Esse peso tributário torna os carros brasileiros muito mais caros em comparação com outros países.

Para entender melhor essa questão, é importante observar como o Brasil arrecada e gasta seu orçamento. Atualmente, o governo brasileiro gasta cerca de 36% do PIB para funcionar, o que é superior à média de países como os Estados Unidos, que arrecadam cerca de 35%, sendo que uma parte significativa desse montante é destinada ao setor militar. Se compararmos os gastos internos dos dois países, o Brasil acaba gastando mais do que os EUA para manter suas operações, mas com uma eficiência muito menor.

Além disso, ao longo dos últimos governos, desde o início do Plano Real, a carga tributária brasileira aumentou significativamente, saindo de 22% do PIB no início do governo Fernando Henrique para os atuais 36%. Esse crescimento se deve em parte à falta de uma reforma tributária eficiente que pudesse redistribuir a carga tributária de maneira mais justa.

O grande problema é que o Brasil tributa mais o consumo do que a renda, o que gera um efeito regressivo, ou seja, as pessoas com menor poder aquisitivo acabam sendo mais impactadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, apenas 16% da arrecadação do governo vem de impostos sobre o consumo, enquanto no Brasil esse número chega a 42%. Isso significa que uma pessoa com renda de R$ 10.000 e outra com renda de R$ 100.000 pagam o mesmo valor de imposto ao comprar um carro, o que torna o sistema tributário brasileiro altamente injusto.

A proposta de uma reforma tributária que inclua o IVA (Imposto sobre Valor Agregado) pode piorar ainda mais essa situação. A previsão é que o IVA brasileiro seja um dos mais altos do mundo, entre 26% e 27,5%, superando até mesmo países europeus como França e Espanha, onde o IVA é de 20%. Além disso, produtos como cigarros, bebidas alcoólicas e carros devem ser taxados com alíquotas ainda mais altas, tornando-os considerados “bens ruins para a saúde”.

Esses fatores mostram como a alta carga tributária sobre o consumo impacta diretamente o preço dos carros no Brasil, tornando-os inacessíveis para muitos e contribuindo para a saída de montadoras do país. Uma reforma tributária justa e eficiente poderia aliviar parte desse peso, mas a discussão em torno do tema ainda é complexa e repleta de desafios.